Modelos Instrutivos – Algumas Reflexões

Tanto o modelo instrucionista de Gagné como o modelo construtivista de Bruner assentam em teorias da aprendizagem. Tem lógica uma vez que só se pode pensar num modelo de instrução depois de perceber como é processada essa aprendizagem pelo ser humano.

O modelo construtivista baseia-se na teoria do desenvolvimento cognitivo que vai beber a Piaget (nomeadamente na questão das representações) e o modelo instrucionista na teoria do processamento da informação (talvez mais atual, digo eu). De Bruner e do seu modelo reti essencialmente o processo indutivo, baseado no processo científico, partindo do específico para o geral. Aqui, o papel principal cabe ao aluno que constrói o seu conhecimento e descobre “por si” as respostas num processo de generalização. Daí, a ênfase que Bruner dá ao processo de aprendizagem e à liberdade que o aluno deve ter para errar durante esse processo. Daí também o nome de aprendizagem pela descoberta guiada. Bruner realça também um aspeto com o qual concordo que é a influência exterior, essencialmente do meio social e cultural, nas aprendizagens anteriores do aluno. Gagné também refere essas influências mas centra-as mais no papel do professor.

Por seu lado, além das cinco aptidões (ou categorias de aptidões) que Gagné defende que o aluno deve possuir depois de um processo instrutivo (com especial realce para as capacidades intelectuais e, dentro destas, para a sua natureza cumulativa – penso que aqui se diferencia de Bruner pois este afirma que nem sempre é obrigatório começar uma aprendizagem pelas matérias mais simples) e para as oito/nove fases no processo instrutivo, talvez o aspeto que mais se destacou em contraste com Bruner, foi a importância dada à memória (refira-se, no entanto, que Bruner defende uma estrutura curricular e de conteúdos “económica” de modo a não sobrecarregar o aluno). No aspeto da memória convém relembrar os princípios da carga cognitiva, da teoria cognitiva da aprendizagem multimédia e da capacidade limitada da memória a curto prazo. Sempre defendi o papel da memória (e da memorização) na aprendizagem que muitas vezes parece subvalorizado no ensino.

Em comum, ambos os modelos falam na importância da predisposição inicial do aluno, na importância da informação verbal (“telling” de Brunner), no professor que se deve avaliar e no papel do reforço (feedback) dado no momento certo e da forma mais correta (penso que este procedimento é muitas vezes esquecido nas salas de aula atuais).

À primeira vista, trata-se de visões antagónicas mas para cada unidade disciplinar um modelo pode trazer mais vantagens sobre o outro. É uma questão a explorar.