Paradigma de investigação pode definir-se como um conjunto articulado de postulados, de valores conhecidos, de teorias comuns e de regras que são aceites por todos os elementos de uma comunidade científica num dado momento histórico. (Coutinho, 2011)
Ainda segundo a mesma autora, “Cumpre os propósitos de unificar os conceitos, pontos de vista, a pertença a uma identidade comum e o de legitimar a investigação através de critérios de validez e interpretação “(Coutinho, 2011, p.9).
Trata-se, portanto de uma visão geral, um modelo, ou como é apelidado por Creswell (2010), uma “conceção filosófica”. Creswell (2010, citando Guba, 1990) diz ter optado por este termo pois refere-se a “um conjunto de crenças básicas que guiam a ação”. Afirma que essas conceções filosóficas estão presentes em toda a investigação mas, por vezes, existe a intenção deliberada de as manter ocultas. Aconselha, por isso, a que se explicite claramente a visão filosófica subjacente à investigação. O mesmo autor refere então que existem quatro grandes conceções ou paradigmas associados à investigação, nomeadamente à investigação em Ciências Sociais e Humanas: pós-positivista, construtivista, reivindicatória/participatória (paradigma sociocrítico) e pragmatismo, esta última mais recente no tempo e que veio, de alguma forma, amenizar os extremismos sobre o modelo a seguir.
De um modo geral, a visão pós-positivista está associada à forma tradicional de pesquisa pois baseia-se em metodologias quantitativas de recolha e análise de dados. É uma visão que se pretende objetiva, experimental, mesmo que adaptada à realidade social. O pesquisador deve ser neutro, não interveniente, admitindo, no entanto, que o conhecimento nunca é totalmente objetivo fruto da interpretação humana. Procura-se a explicação da causa através da verificação empírica, baseando-se na ideia que toda a realidade pode ser mensurável. Utiliza um método hipotético-indutivo em que a confirmação das hipóteses leva à generalização dos casos particulares numa lei geral. Usher (1996, citado em Coutinho, 2011) é um dos autores que critica este modelo uma vez que não é possível aplicar à realidade social, que é aberta e indeterminada, um modelo que concebe o mundo como sendo ordenado, previsível e sujeito a leis.
O paradigma construtivista apoia-se numa perspetiva qualitativa de recolha e análise de dados, em que o pesquisador reconhece o seu próprio significado sobre a realidade e sobre ela exerce influência, posicionando-se no seu interior. Ele dá significado à realidade que os sujeitos em estudo apresentam, através do diálogo e interação com os participantes. Em vez de começar com uma teoria, os investigadores desenvolvem um padrão de significado a partir da interpretação que fazem da interação com o sujeito. Neste sentido, são utilizadas questões abertas dando azo à interpretação das respostas.
O paradigma sociocrítico, ou conceção reivindicatória/participatória, é mais recente e defende que a investigação deve servir propósitos políticos e sociais, através do debate e discussão, de modo a lançar as bases para uma mudança social. Assume claramente que nenhum pesquisador é neutro em termos ideológicos ou políticos. A investigação decorre com os sujeitos que são envolvidos ativamente, participando na recolha e análise dos dados e, inclusivamente, no rumo a seguir. Segue o método da investigação-ação, centrando-se, essencialmente, em grupos ou indivíduos marginalizados pela sociedade, abordando questões como a desigualdade, opressão, alienação.
Recentemente, surgem correntes que afirmam não fazer sentido esta divisão em paradigmas pois a metodologia a seguir, nomeadamente na recolha e análise de dados, deve ser a que melhor responde ao problema definido. O mundo não sendo uma realidade absoluta deve ser compreendido à luz de diferentes métodos (métodos mistos). Nesse sentido, o pesquisador é livre na escolha dos métodos, técnicas e procedimentos a seguir. Centra-se, também, na aplicação do conhecimento ao real, nas soluções práticas para os problemas, tendo presente que o contexto social, cultural, histórico e político devem ser considerados pois influenciam a investigação. É o paradigma pragmático.
A definição clara de um paradigma ou conceção subjacente a uma investigação deve ser feita de modo a entender perfeitamente as opções do investigador, nomeadamente no que se refere a metodologias, métodos e técnicas. Koetting (1996, citado por Coutinho, 2004) refere que “As metodologias carregam em si mesmas interesses que condicionam os resultados procurados e encontrados, razão pela qual o investigador deverá procurar identificar os interesses humanos que estão sempre por detrás das diferentes formas de investigar.” (p.438). A mesma autora defende que ao conhecer o(s) paradigma(s) de investigação possibilita tomar decisões fundamentadas, questionando assim os “porquês” das opções metodológicas, fazendo assim uma viagem ao pensamento científico inerentes à prática de investigação.
Referências:
Pedro, N. (s.d.). Paradigmas de Investigação. Texto de Apoio à Unidade Curricular de Metodologias de Investigação I. Universidade de Lisboa
Creswell, J. (2010). Seleção de um projeto de pesquisa. In: Projeto de pesquisa. Métodos qualitativo, quantitativo e misto. (pp. 27-35). (3ª Edição). Artmed Editora.
Coutinho, C. (2011). Paradigmas, Metodologias e Métodos de Investigação. In: Metodologias de Investigação em Ciências Sociais e Humanas. (p.9-41).Lisboa. Almedina.
Coutinho, C. (2004). Quantitativo versus qualitativo : questões paradigmáticas na pesquisa em avaliação. (p. 436-448) [On-line] Retirado de: http://hdl.handle.net/1822/6469